Se existe uma data que
sempre gostei foi do Natal.
Quando era criança
essa data era comemorada na casa de meus avós maternos. Eles eram portugueses,
tinha muita comida e o tradicional bacalhau.
A família se reunia,
era uma festa, embora sempre houvesse uma tradicional confusão, bate bocas,
entre outros impropérios, mas tudo terminava bem.
Com a morte dos meus
avós essa tradição terminou.
Sempre pedia para
minha mãe fazer uma ceia para comemorar essa data, o que sempre era negado. A
resposta era sempre a mesma, com a morte dos meus pais, acabou a graça, não
tenho mais vontade de fazer.
Acostumei-me a passar
essa data longe de casa, ou era na casa de algum colega que me convidava, ou
caminhando pelas ruas. Lá pela uma hora da manhã, retornava para minha casa.
Minha irmã tinha
arrumado um namorado, era um cara muito metido a besta, meu anjo da guarda
nunca se acertou muito com o dele.
Notei um movimento
muito estranho para a véspera de Natal. Procurei saber o que estava acontecendo
com minha. A resposta me deixou perplexo: Seria o primeiro Natal que minha irmã
passaria com o namorado dela em nossa casa, e por isso seria feita uma ceia.
Fiquei muito
revoltado, pois todo ano pedia que fosse feita, e nunca meu pedido foi
atendido. Minha mãe disse que contava comigo. Minha resposta foi curta e
grossa. Nem que a vaca tussa vou estar presente. Minha mãe disse que eles
poderiam ficar chateados com minha decisão, que se lasquem respondi.
Sai de casa por volta
das 19 horas, visitei alguns colegas para desejar um Feliz Natal. Como não
tinha para onde ir, comecei a caminhar. Subia pela Coronel Agostinho e descia
pela Augusto Vasconcelos. Vi as pessoas entrarem na igreja para assistir a
Missa do Galo e as vi saindo quando a missa terminou.
Resolvi voltar para a
minha casa, imaginava que tudo já estivesse terminado. Quando cheguei, a casa
estava toda apagada e eu estava morto de fome. Em total silêncio, fui até a
mesa para beliscar alguma coisa. Descobri a mesa que estava coberta por uma
toalha e verifiquei que tudo estava intocado.
Comecei a comer alguns
bolinhos de bacalhau quando minha mãe acordou. Perguntei o que tinha havido.
Ele é ateu, foi a resposta, não quis tocar em nada.
Bem feito, respondi
vocês podem fazer quantas ceias quiserem, eu nunca mais passarei com vocês a
meia noite no dia Natal.
O paspalhão, que era
peruano, acabou por mostrar quem realmente era. Fazia medicina, ficou noivo de
minha irmã, se formou, pegou dinheiro emprestado com meu pai e um tio para
montar um consultório em São Paulo, foi para lá e nunca mais voltou.
Minha irmã acabou se
casando com um cara muito legal, adorava o Natal e todo ano fazia uma festa.
Passei a participar, porém, quando o relógio marcava 23 horas, me retirava.
Minha palavra
continuava mantida.
Atualmente, eu e minha
esposa mantemos a tradição, mesmo que só estejamos os dois, nossa ceia é sempre
realizada.
Paulo Edgar Melo
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