segunda-feira, 6 de julho de 2020

ENTÃO É NATAL




Se existe uma data que sempre gostei foi do Natal.

Quando era criança essa data era comemorada na casa de meus avós maternos. Eles eram portugueses, tinha muita comida e o tradicional bacalhau.

A família se reunia, era uma festa, embora sempre houvesse uma tradicional confusão, bate bocas, entre outros impropérios, mas tudo terminava bem.

Com a morte dos meus avós essa tradição terminou.

Sempre pedia para minha mãe fazer uma ceia para comemorar essa data, o que sempre era negado. A resposta era sempre a mesma, com a morte dos meus pais, acabou a graça, não tenho mais vontade de fazer.

Acostumei-me a passar essa data longe de casa, ou era na casa de algum colega que me convidava, ou caminhando pelas ruas. Lá pela uma hora da manhã, retornava para minha casa.

Minha irmã tinha arrumado um namorado, era um cara muito metido a besta, meu anjo da guarda nunca se acertou muito com o dele.

Notei um movimento muito estranho para a véspera de Natal. Procurei saber o que estava acontecendo com minha. A resposta me deixou perplexo: Seria o primeiro Natal que minha irmã passaria com o namorado dela em nossa casa, e por isso seria feita uma ceia.

Fiquei muito revoltado, pois todo ano pedia que fosse feita, e nunca meu pedido foi atendido. Minha mãe disse que contava comigo. Minha resposta foi curta e grossa. Nem que a vaca tussa vou estar presente. Minha mãe disse que eles poderiam ficar chateados com minha decisão, que se lasquem respondi.

Sai de casa por volta das 19 horas, visitei alguns colegas para desejar um Feliz Natal. Como não tinha para onde ir, comecei a caminhar. Subia pela Coronel Agostinho e descia pela Augusto Vasconcelos. Vi as pessoas entrarem na igreja para assistir a Missa do Galo e as vi saindo quando a missa terminou.

Resolvi voltar para a minha casa, imaginava que tudo já estivesse terminado. Quando cheguei, a casa estava toda apagada e eu estava morto de fome. Em total silêncio, fui até a mesa para beliscar alguma coisa. Descobri a mesa que estava coberta por uma toalha e verifiquei que tudo estava intocado.

Comecei a comer alguns bolinhos de bacalhau quando minha mãe acordou. Perguntei o que tinha havido. Ele é ateu, foi a resposta, não quis tocar em nada.

Bem feito, respondi vocês podem fazer quantas ceias quiserem, eu nunca mais passarei com vocês a meia noite no dia Natal.

O paspalhão, que era peruano, acabou por mostrar quem realmente era. Fazia medicina, ficou noivo de minha irmã, se formou, pegou dinheiro emprestado com meu pai e um tio para montar um consultório em São Paulo, foi para lá e nunca mais voltou.

Minha irmã acabou se casando com um cara muito legal, adorava o Natal e todo ano fazia uma festa. Passei a participar, porém, quando o relógio marcava 23 horas, me retirava.

Minha palavra continuava mantida.

Atualmente, eu e minha esposa mantemos a tradição, mesmo que só estejamos os dois, nossa ceia é sempre realizada.

Paulo Edgar Melo
 



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